quarta-feira, 23 de outubro de 2013

INDIVISÍVEIS


O meu primeiro amor
e eu sentávamos numa pedra
que havia num terreno baldio entre as nossas casas.
Falávamos de coisas bobas, isto é,
que a gente grande achava bobas.
Como qualquer troca de confidências
entre crianças de cinco anos. Crianças...
Parecia que entre um e outro
nem havia ainda separação de sexos,
a não ser o azul imenso dos olhos dela,
olhos que eu não encontrava em ninguém mais,
nem no cachorro e no gato da casa,
que apenas tinham a mesma fidelidade sem compromisso
e a mesma animal - ou celestial - inocência.
Porque o azul dos olhos dela tornava mais azul o céu.
Não importava as coisas bobas que disséssemos.
Éramos um desejo de estar perto, tão perto,
que não havia ali apenas duas encantadoras criaturas,
mas um único amor sentado sobre uma tosca pedra,
enquanto a gente grande passava, caçoava, ria-se,
não sabia que eles levariam procurando
uma coisa assim por toda a sua vida...

MÁRIO QUINTANA

Este poema fala sobre o puro amor entre duas crianças que se amam sem maldade ou impureza alguma. Eu recomendo esse poema pois o autor, em sua última estrofe me chamou muita atenção ao dizer: "[...] enquanto a gente grande passava, caçoava, ria-se,não sabia que eles levariam procurando uma coisa assim por toda a sua vida...", ou seja, ele fala sobre a dificuldade de muitos adultos encontrarem um amor verdadeiro por não ter essa essência que as crianças possuem, de viver cada instante sem se preocupar com o futuro.


3 comentários:

  1. Me faz uma analise completa desss poema

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  2. Adorei sua análise. Amor natural,sob a ótica das crianças.
    Enquanto os adultos perdem a essência do natural,ver maldade em tudo.
    Esquecem que a fidelidade une tudo.
    Abraço

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